O Peixe, a Formiga, e a Hurb Parte III | De Piratas para Marinha?
Há alguns anos, o Yahoo foi vendido para a Verizon por US$5 bilhões, no que a Forbes chamou de “a transação mais triste da história da tecnologia”.
A diferença entre sucesso e fracasso pode ser subjetiva, e é algo que perturba um empreendedor todos os dias.
Montei minha primeira startup em 2001. Na época, o Yahoo era de longe a maior empresa de Internet e valia mais de $125 bilhões.
Me lembro do dia em que um amigo me mostrou um novo motor de busca chamado Google pela primeira vez.
Na época, todos diziam que o Google não daria certo porque estava entrando no mercado ‘too late’. Havia inúmeros motores de busca — como Lycos, Ask Jeeves, Excite, AOL e AltaVista — que eram muito maiores, e o Yahoo dominava toda a indústria de busca da mesma forma que o Google faz hoje.
Em 1998, o Yahoo se recusou a comprar o Google por US $1 milhão. O Yahoo era o gigante; o Google, a formiga. Em 2002 o Yahoo tentou comprar o Google por US$3 bilhões quando percebeu o quão rapidamente o Google estava crescendo, mas desistiu quando o Google pediu US $5 bilhões. Hoje, o Google vale US $515 bilhões na Bolsa. Tem barato que sai caro.
É insano ver como as coisas mudam. Se você perder uma oportunidade crítica, isso pode te custar para sempre.
Para mim, a moral da história está num provérbio tailandês: “Quando a maré está alta, os peixes comem as formigas. Quando a maré está baixa, as formigas comem os peixes.”
Seja você uma pessoa, uma empresa ou um país, você raramente vai saber se está no seu pico — ou se desenvolveu apenas uma fração do seu potencial.
A mudança pode acontecer de forma gradual ao longo do tempo, ou pode acontecer instantaneamente, em dias. Por esta razão, a única chave para o sucesso a longo prazo é a aprendizagem contínua, crescimento e evolução.
Como Darwin prova na teoria da evolução, as espécies com maior probabilidade de sobreviver são aquelas que se adaptam de forma mais eficiente para mudar. Não é o mais forte ou o mais inteligente que sobrevive. São os que se adaptam e evoluem de forma mais eficiente.
Em 2011, criamos o Hurb, nossa terceira startup, após tentarmos e falhamos duas vezes. O Jeff Bezos, da Amazon, ensina que o que a gente chama de fracasso, ele chama de inovação.
Falando sobre o Fire Phone, ele disse aos investidores: “Se você acha que isso é um grande fracasso, nós estamos trabalhando em fracassos muito maiores neste momento — e eu não estou brincando. É nossa obrigação, se queremos ser inovadores e pioneiros, cometer erros, e como a Amazon tem crescido muito, o tamanho dos erros precisa ser proporcional.”
Ao longo dos últimos anos o HU fomentou novos destinos, colocou milhares de pequenos hoteleiros no radar de quem viaja e com isso gerou milhares de empregos. Usando tecnologia, mostramos a milhões de pessoas que sair da rotina é possível — e desejável. Viajar inspira e transforma as pessoas. Construímos uma das maiores comunidades no Facebook do mundo, com mais fãs que o Dalai Lama, a Samsung, a Oprah Winfrey e o Disney Channel.
Quando tudo ia bem, tropeçamos. Num evento totalmente inesperado, em novembro de 2015 perdemos o controle de nossa própria empresa para um sócio (um investidor financeiro), e saímos do dia-a-dia da operação. Tínhamos um sonho (que parecia impossível) de voltar ao controle, e as pessoas riam quando falávamos isso. Só nos restava rir de volta, para não acharem que éramos malucos. Contemplar um futuro sem o HU dava um vazio enorme.
Em meados de 2016, o que parecia maluquice se tornou possível. Vontade e perseverança, acredito, viram realidade.
É raro, muito raro, a vida dar uma segunda chance, e eu sou muito grato por esta.
Em 2015, participei de um painel em Las Vegas com o Travis (CEO da Uber) e empreendedores estilo “silicon valley” que tinham concorrentes estabelecidos quando surgiram.
O mediador perguntou para cada um dos painelistas qual era seu diferencial. Um respondeu que foi ser mais agressivo, outro de que sua tecnologia era melhor, outro que inovou num mercado já consolidado. O que eu fiz de diferente na vida, mesmo antes de fundar o Hurb, foi não desistir, Travis respondeu “Same as Joao”.
Foi essa a minha resposta: “I never gave up”. Após uma recompra voltamos em 2016.
Na minha breve trajetória, aprendi que se eu aceitar a realidade, ao invés de desejar que ela não exista, e se eu aprender a trabalhar com ela, ao invés de combatê-la, é mais fácil chegar nos meus objetivos. Pode demorar, mas acontece.
Recentemente, um erro meu de falta de maturidade e talvez um propósito não entendido ainda (infelizmente) por muita gente, fez eu me afastar do dia a dia da operação. Acredito que será um caminho importante pois nosso CEO atual é Otávio Brissant.
Sobre Piratas (Start-up) e Marinha (Big Company) é o dilema.
Assim como muitas histórias de redenção, há uma moral a ser extraída do conto do Capitão Jack Sparrow e sua gangue de piratas.
No entanto, o que muitos fundadores esquecem dessa lição, IMHO não é uma regra….
Há uma noção que dizem romântica (o que não acredito ser e sim REAL) de que startups devem agir como um time de piratas lutando, com gancho e cutelo, em direção ao crescimento.
E não há nada de errado com isso, se há eu desconheço e se alguém conhece principalmente nasceu marinheiro.
É uma visão com a qual concordo em parte — desde que você mantenha firme a sua bússola ética e perceba que os seus dias como aventureiro audaz devem dar lugar à maturidade de sua empresa.
Acredito que toda startup deve fazer a transição de uma startup para uma grande companhia.
Porém não acredito que um Time de Piratas devam se tornar uma Marinha Disciplinada, até porque um peixe nunca irá voar, pois em momentos de mar forte, Piratas crescem e muitos marinheiros buscam tomar “dramin”.
Se errar o “timing” dessa transição, nos perderemos em alto mar, o mesmo pode acontecer se deixarmos nossa essência positiva de Piratas e colocarmos um colarinho da Marinha, seremos mais um gigante ineficiente e teremos como todo gigante uma morte lenta.
A vida é um jogo de superação de obstáculos, e você fica melhor no jogo através da prática.
A “Navy” não pode esquecer que um dia você é peixe, na outra formiga.
O peixe, a formiga, e a Hurb
Otávio Brissant, Jack e João R.